A Língua no Terreiro: Entre o Yorubá e o Kimbundu – Conflito ou Conexão?
Nos terreiros de matriz africana, as palavras carregam ancestralidade, energia e história. É pela oralidade que a tradição se mantém viva, atravessando gerações. Em meio a essa herança, surge um debate delicado: é apropriado o uso da língua yorubá em terreiros de nação Kongo-Angola? Seria isso uma perda da identidade ou uma forma legítima de convivência entre tradições irmãs?
As línguas que se entrecruzam dentro e fora dos terreiros
É comum que, mesmo em casas que se identificam com a nação Angola ou Congo, expressões yorubás estejam presentes no cotidiano: em cantigas, rezas ou mesmo nas saudações. Para alguns, isso é reflexo da convivência entre as nações dentro do mesmo espaço ritual. Para outros, representa um distanciamento da "pureza" tradicional da nação.
Mas a realidade é que as religiões afro-brasileiras são essencialmente híbridas. Foram moldadas a partir da diáspora, da resistência e da necessidade de preservação diante da opressão. Assim, é natural que essas culturas tenham se entrelaçado, formando um mosaico de saberes.
A oralidade como uma ponte e não como uma barreira
Um dos pontos centrais dessa discussão é a força da oralidade. Foi através dela que muitas casas mantiveram vivos os ensinamentos mesmo diante do apagamento cultural promovido pelo colonialismo. Nesse processo, a incorporação de palavras, expressões e até mesmo cânticos yorubás por casas de nação Kongo-Angola pode ser vista como parte da sobrevivência ritual.
A língua é, antes de tudo, uma ferramenta de comunicação e conexão. Quando um zelador ou filho de santo utiliza termos yorubás, isso pode representar mais do que simples "mistura" — pode ser um ato de respeito, diálogo e intercâmbio entre tradições que compartilham valores semelhantes.
A importância de valorizar a língua da sua nação
Contudo, é essencial não perder de vista a importância de conhecer e preservar a língua originária da sua própria nação. Aprender o Kimbundu ou o Kikongo, por exemplo, significa entender de forma mais profunda os cantos, as rezas, os rituais, os nomes dos instrumentos, dos encantados e suas histórias.
Valorizar a própria língua é um ato de afirmação cultural e política. É por meio dela que se compreende a cosmovisão do povo, que se honra a ancestralidade e que se transmite a sabedoria dos mais velhos com mais fidelidade.
Acerca do que foi dito, se chega à conclusão que o uso da língua yorubá em casas de nação Angola ou Congo não deve ser visto, necessariamente, como uma ameaça à identidade. Devemos parar e refletir se estamos aprendendo a língua do outro por necessidade ou por modismo? Estamos nos esquecendo da nossa raiz linguística?
Em vez de condenar ou aceitar cegamente, talvez o melhor caminho seja o da consciência e do equilíbrio. Resgatar e fortalecer a língua da própria nação é resistir ao apagamento. Dialogar com outras tradições é enriquecer o axé coletivo.
🗣 E você? O que pensa sobre isso?
Aos mais novos: será que estão tendo acesso ao aprendizado da língua da sua nação ou estão apenas repetindo expressões sem saber seu significado?
Aos mais velhos: será que estão dispostos a ensinar o que sabem e permitir que a tradição se fortaleça no presente?
A todos: quem dará o primeiro passo para o enriquecimento coletivo do axé?
Deixe seu comentário e compartilhe essa reflexão com quem caminha com você no axé.
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